
Engraçado como nós deixamos de conseguir dizer certas coisas com o tempo.
Acho que inerente ao processo de crescimento, vem um de afastamento em relação a tudo o que é incondicional.
À medida que a sociedade nos vai dizendo para sermos homens, diz-nos também que temos de ser independentes, muito antes do o querermos ser na realidade, homens ou independentes. Vamos então criando uma ponte com alicerces muito fracos em relação àqueles que nos permitiram crescer. Não o queremos fazer mas não o conseguimos evitar.
Porque nos é tão difícil dizer a alguém que durante anos foi a concretização de todas as alegrias, a protectora de todos os males, a rocha que não mexia e a água que embalava, o refúgio, a causa de uma indescritível alegria e realização, amo-te? Porquê?
Crescemos e perdemos o direito a essa paz, crescemos e negámos o reconhecimento de termos sido tudo quando ainda não éramos nada a quem mais o merece saber.
A ponte cresce e com ela os inexoráveis traços do tempo marcam linhas desconexas que podem nunca ser ligadas.
Lado a lado com a impossibilidade de nos sentir-mos seguros e crianças, no fundo o que qualquer adulto quer, vem a incapacidade de admitir que já o fomos e a quem o devemos.
Não está correcto.
Não está correcto.
Quero ter filhos, espero passar horas a vê-los dormir, incapaz de lhes falar porque qualquer palavra é insuficiente para o momento e, qualquer um a pode proferir, não tocar porque nenhum toque transmite a realidade, é só um toque, ser o momento maior do que eu, do que tudo, absorto numa respiração que não é minha, dar-lhes nesse momento, tudo o que recebi.
Obrigado Mãe.
Sem comentários:
Enviar um comentário