22 de janeiro de 2009

Pavlov


Receámos de tal forma o desgosto que esquecemos o prazer de satisfazer desejos.
Sendo este proporcional ao possível desgosto, o simbiótico receio eleva-se, paralisando os movimentos. Quando o cumulativo de experiências faz o instinto entrar,
dificilmente o racional ganha ao emotivo, deixando-nos a reagir em vez de agir.
É Pavlov, mal se vê o objecto desejado já a incomodidade se está a instalar. É uma defesa adquirida ao longo de anos, daí a crescente dificuldade em conhecer pessoas, amigos ou não, com o passar do tempo, a cada passo cai mais um pouco da inocência que nos permite confiar.
E assim nasce o conformismo...




21 de janeiro de 2009

Casual Friday


Devíamos ter um dia por semana, à semelhança do "casual friday" adoptado pelos Americanos, em que não conseguíssemos dizer mentiras, usar subterfúgios ou evitar perguntas.
No espaço de um mês adiantava-se a vida em dez anos...


3 de janeiro de 2009

A exploração da Caridade

Gosto de pensar. É algo que não consigo deixar de fazer. Uma das coisas que me parece tão simples que chega a ser infantil, é o exercício mental de tentar "vestir a pele" de outra pessoa. Isso recentemente levou-me a pensar na caridade.
O acto de ajudar alguém devia ter como objectivo a pessoa a ser ajudada e não o facilitador da ajuda, ou seja, o acto devia ser fim em si mesmo.
Imaginemos alguém sem capacidade financeira para se alimentar, a si e aos seus, imaginemos a desesperante frustração de não o poder fazer, imaginemos agora a evisceração do orgulho em ter de aceitar, muitas vezes até pedir, algo tão básico como um pão. Horrendo não?
Seguindo o exercício, vamos supor que a caridosa alma que estende a sua mao o faz publicamente, como sempre o faz senão não era vista, que nos pergunta quatro vezes se estámos contentes, se vai dar jeito, se não é uma boa ajuda, etc.
Quem recebe tem de agradecer, baixar os olhos, pedir desculpa por estar vivo e agradecer o facto de haver alguém tão superior em moral e bondade que até lhe ofereceu um pão ou outro objecto que possivelmente teria o lixo como destino de outra forma. Já não é mau que chegue não ter o que comer ou o que vestir? Ainda é necessária esta humilhação?
Infelizmente quando alguém estende a mão é para ver o próprio braço. As pessoas quando ofereçem ajuda, fazem-no para se sentirem bem com elas próprias, para mostrarem aos seus pares sociais os seus excelentes corações. Passarem por cima da réstia de humanidade, orgulho e auto-estima, de quem já tem pouca para aguentar um espelho, nem lhes passa pela cabeça.
Já nem falo dos abutres sensacionalistas de alguns programas matutinos de televisão que exploram a miséria dos outros por audiências, reduzem a condição humana de quem pouca escolha tem além de se sujeitar à humilhação pública para sobreviver com alguma capacidade de recursos básicos. Esses abutres ainda são idolatrados pelo povinho que nem sequer tenta imaginar o que será ir a uma televisão nacional em directo e fazer de animal de circo para regozijo de um "coliseu" nacional a clamar entretenimento. Só para poder comer!
A ajuda não é para ser vista nem agradecida. Se o for perde a sua nobreza por completo.
Será que ninguém pensa na indignidade sentida por quem precisa de ajuda em coisas tão básicas que têm de lhes ser devidas pelo mero facto de existirem? De serem Humanos? Fugimos assim tanto dos básicos princípios humanos e ousámos usar o sofrimento como som de fundo para o pequeno-almoço? Ficámos tão absorvidos na mesquinhez das nossas vidinhas básicas que já utilizámos a desgraça alheia como escadaria para uma falsa ascensão moral. Como podemos ser humanos quando ignorámos o que nos humaniza?
Nada mudou desde César. Entretenham o povo. Hajam jogos...
Salazar tinha os três F's, Fado, Futebol e Fátima, trocámos o fado pela TVI mas o conceito mantem-se.
Minha gente, precisar de uma esmola já é mau que chegue, ter de a agradecer publicamente para elevar o ego de alguém é desumano.
Abençoado com a maldição de pensar não consigo deixar de me sentir enojado com isto, envergonhado pela espécie a que pertenço.

2 de janeiro de 2009

In Vino Veritas

Irrita-me este novo conceito social. Enerva-me quando alguém toma uma decisão ou opina sobre algo com base em nada e se desculpa com a sociedade. É o pior tipo de cobardia intelectual que pode haver. "Por mim tudo bem, a sociedade é que não aceita..." Balelas!
Mas afinal o que é essa coisa? Esse bicho anónimo que já substitui o livre arbitrio, a capacidade de tomar decisões ponderadas, essa consciência colectiva que reflecte as nossas hipócritas cobardias. Tirando o "eu" da equação tira-se a responsabilidade da posição tomada. Assim é fácil e limpo. Pena é ser também cobarde, estúpido e apático.
Não conheço ninguém que seja abertamente contra a homossexualidade, conheço montes de gente que frequentam prostitutas, outros tantos que não suportam toxicodependentes, no entanto, a opinião pública sobre a homossexualidade é bem explícita, assim como sobre a prostituição, são ambos males a erradicar, pecados até. Os toxicodependentes recebem apoios e ajuda, nada contra, só quero focar a divergência entre as opiniões reais e fabricadas.
Muitas vezes dou por mim a sentir-me como a personagem principal das "Vinhas da Ira" de John Steinbeck "Digam-me quem me tirou as terras para que lhe possa partir a cara!". Mostrem-me esse animal mitológico chamado "sociedade" para lhe poder chamar idiota.
Recuso-me a ter as minhas opiniões impostas por um conceito geral. "Digam-me quem me tirou as terras...".
As máscaras que usámos para ir ao encontro do padrão socialmente aceitável são rídiculas, até porque, esse padrão, muitas e grosseiras vezes está errado. Porque hei-de abdicar do meu individualismo em nome de um conceito falhado? A sociedade está hipócrita, moralmente corrupta e sexualmente reprimida. Agora pergunto, vou-me eu fundir com algo que não concordo, uma sociedade dez anos atrasada face à realidade, e no processo apagar-me como ser individual? "Digam-me a quem partir a cara."
Lanço aqui o apelo de emborrachar o país inteiro, porque bêbadas as pessoas tendem a ser honestas, e encontrar aquelas que ninguém admite ser, os tais dotados de uma relação simbiótica com o social e parasitária com o mundo. E depois fuzilá-los...
Ou no mínimo forçá-los a passar sem pornografia, alcool, tabaco, mulheres, noitadas e demais farras. Ter sexo com a esposa, e só a esposa, na posição de missionário com a luz apagada e apenas quando houver intento de procriar. Ir à igreja todos os domingos e passar um dia inteiro com a Teresa Guilherme e a Júlia Pinheiro, esses fantásticos ídolos sociais representativos dos nossos dias.
Assim fuzilavam-se eles e nós tinhamos as mãos limpas.
Só uma ideia... Ou então "digam-me a quem partir a cara!".