
Tudo tem relevância, Newton foi o primeiro a perceber que para cada acção há uma reacção, isto não é só física, é vida. Uma porta giratória que encrava e atrasa a saída de alguém 10 segundos, 10 segundos que impediram alguém de conhecer outro alguém, alguém de ver um acidente e salvar uma vida, 10 segundos, um alguém e muitos outros que foram ou não tocados por isso, uma vida em 10 segundos ou numa palavra que ficou por dizer. Temos peso, somos responsáveis por muito que nunca o vejamos ou percebamos.
Acho que esse é parte do problema, nunca sentimos o nosso lugar de uma forma directa, o cosmos, esse todo de qual somos parte não nos põe a mão no ombro, não nos diz que vai acabar tudo bem, não fala nem sente, existe.
Alguém me disse à pouco tempo que, nos tempos que correm de crescentes formas de comunicação, a solidão se torna cada vez mais profunda e irremediável. No entanto, usando a comparabilidade social, tendo em conta que existe muita gente na mesma situação e muita mais ainda com piores desígnios, esta devia ser de certa forma aceite. Caríssima, lamento mas, não sou, nem serei nunca capaz de encontrar felicidade na miséria dos outros. É suposto eu deixar de sentir por questões de comparabilidade? Aparentemente, mas falha-me o engenho, a ginástica mental de tirar prazer de alguém que chora com fome. Não me alivia a dor, entristece-me ainda mais que tal possa acontecer. Não me sinto menos só por isso.
Sim, não sou o único mas isso só agrava o meu estado, se calhar alguém duas ou três portas abaixo está neste momento no seu blog, a escrever o que eu sinto, a sentir o que eu penso, a pensar o que eu escrevo. Mas está três portas abaixo a um mundo de distância. Inatingível, assim como eu.
Ontem fiz anos. Dei por mim a fazer horas no emprego, unicamente para não estar só. Foi uma bofetada da realidade, e uma bem dura. Inventei uma festa que não ia existir, com amigos que não tenho e alegria que não sinto. Por muito má que fosse a situação, admiti-la ainda seria pior. Prefiro estar miserável a ser coitadinho.
Escrevo isto porque não o consigo dizer, já me desabituei de falar, falta de público, falta de engenho, não sei. Estou cansado.
É impressinante o que diz, tal é a mesmíssima dor que me acompanha há anos...
ResponderEliminarNão é fácil..
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